
27/10/2025
Durante missão oficial à Indonésia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou a empresários brasileiros que a prioridade de sua conversa com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, neste domingo (26), seria buscar a reversão das tarifas adicionais aplicadas às exportações de carne bovina e café do Brasil para o mercado norte-americano. Em contrapartida, o país pode diminuir a alíquota de 18% que incide atualmente sobre a importação de etanol dos EUA.
O encontro entre Lula e Trump aconteceu em Kuala Lumpur, na Malásia, e foi acompanhado de perto por representantes do setor produtivo brasileiro. De acordo com uma fonte presente na missão, há otimismo quanto a um encaminhamento positivo para reduzir as barreiras impostas por Washington.
Atualmente, os Estados Unidos aplicam uma tarifa extra de 40% sobre a carne e o café brasileiros, além de uma taxa geral de 10% criada em abril para todos os países. Ainda não há definição sobre como seria feita a retirada dessas tarifas — se de forma gradual ou imediata —, mas empresários do agronegócio consideraram a simples realização do encontro um avanço diplomático.
Trump declarou no sábado (25) que poderá rever as tarifas “diante das circunstâncias certas”, enquanto Lula disse que os dois governos vão “colocar os problemas na mesa” e buscar “uma solução equilibrada”.
A contrapartida brasileira seria reduzir a taxa de 18% que incide sobre o etanol de milho americano, o que preocupa produtores do Nordeste, principais defensores da manutenção da tarifa. O setor teme perdas de competitividade frente ao produto norte-americano, que recebe subsídios e tem custo de produção mais baixo.
A ampliação das exportações de etanol é uma prioridade histórica dos Estados Unidos nas negociações agrícolas com o Brasil. Fontes do Ministério da Agricultura confirmaram que o tema já vinha sendo discutido com diplomatas norte-americanos.
Em resposta, representantes de usinas brasileiras enviaram ofício ao ministro Carlos Fávaro, pedindo que o governo não reduza a tarifa sem uma contrapartida concreta.
As entidades Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia) e Bioenergia Brasil negaram qualquer negociação em curso sobre a redução da alíquota e reafirmaram a confiança na condução responsável do governo. Em nota, destacaram que qualquer mudança tarifária deve garantir a segurança energética, a estabilidade regulatória e a credibilidade do Brasil como referência global na transição para uma economia de baixo carbono.
Para o setor, o etanol brasileiro, produzido majoritariamente a partir da cana-de-açúcar, é um ativo estratégico de soberania nacional e não deve ser usado como moeda de troca em negociações comerciais.
A tarifa de 18% foi restabelecida em 2023, após um período de isenção, e o Brasil condiciona qualquer redução a uma ampliação da cota de exportação de açúcar para os EUA — atualmente limitada a 155 mil toneladas. Caso essa contrapartida não ocorra, o governo brasileiro avalia manter alíquotas acima de 64% sobre o produto americano.
Mesmo com as tarifas em vigor, os EUA exportaram 111,5 mil toneladas de etanol ao Brasil entre janeiro e setembro de 2025, com faturamento de US$ 68,4 milhões, superando os resultados de 2024 (86,2 mil toneladas e US$ 50,1 milhões).
O setor cafeeiro foi um dos mais atingidos pelo tarifaço americano. Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), em setembro de 2025, as importações dos EUA caíram 52,8% em relação ao mesmo mês do ano anterior, totalizando 332,8 mil sacas. O país, que historicamente lidera o ranking de compradores do café brasileiro com 30% de participação, caiu para a terceira posição.
Em 2024, o Brasil exportou 471 mil toneladas de café para os Estados Unidos, com receita superior a US$ 2 bilhões. Em 2025, até setembro, os embarques somaram 249,5 mil toneladas, gerando US$ 1,6 bilhão.
O vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, confirmou recentemente ao setor que o café estará entre os principais temas das negociações com o governo americano. Segundo ele, há duas alternativas em estudo: suspender temporariamente as tarifas enquanto o acordo bilateral é finalizado ou incluir o produto em uma lista de isenção gradual, que poderia reduzir ao menos a tarifa adicional de 40%.
Em relação à carne bovina, o Brasil vinha ampliando as exportações para os Estados Unidos, onde o produto é usado principalmente na produção de hambúrgueres. Em 2024, foram exportadas 229,5 mil toneladas, e em 2025 o ritmo seguia mais acelerado, com 218 mil toneladas até setembro.
Mesmo com a queda nos embarques após a entrada em vigor das novas tarifas (9,3 mil toneladas em agosto e 9,9 mil em setembro), a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) afirma que o setor segue competitivo. No acumulado do ano, as exportações para os EUA registraram alta de 64,6% em volume e 53,8% em valor na comparação com 2024.
Fonte: NovaCana